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Genética

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Meu caro Eudaldo: Saudações

A Edição Genética é a edição que se atenta em marcar, dentro da própria transcrição, por meio de operadores genéticos, os movimentos de escrita do(s) autor(es) de um texto. Há documentos, principalmente manuscritos modernos, que apresentam diversas marcas de manipulação (Duarte, 2019, p. 383) na construção do texto e, nestes documentos, se aplicam critérios de edição que contam com operadores genéticos, ou seja, símbolos que são utilizados para determinar o processo genético de escrita, dando, além de uma atenção especial às mudanças linguísticas e estilísticas do texto, uma ênfase nos aspectos materiais do documentos, como os tipos de cancelamentos, ou tipos de acréscimos que o(s) autor(es) empreenderam no texto, por exemplo. A edição genética é útil, visto que pode ser elaborada no word e consegue apresentar, ao máximo possível, os movimentos de escrita do texto, sem necessariamente estar com o facsímile presente, pois, conhecendo os operadores genéticos, apenas lendo a transcrição, é possível acessar uuma ‘imagem mental’ das características físicas do texto no documento, incluindo a cronologia das modificações. Além disso, esta edição serve de base para as demais edições elaboradas nesta pesquisa e, se tratando de rascunhos que contam com movimentos de escrita, é a mais adequada para a sua edição e deve ser, acredito, a primeira edição a ser feita com este tipo de documentos, seguindo para outros tipos após a sua elaboração, utilizando-a como base editorial. A partir da edição dos 19 rascunhos de cartas de Eulálio Motta para Eudaldo Lima, além de outros rascunhos, este tipo de edição têm-se mostrado eficiente no que se propõe: marcar a gênese da construção textual em documentos que apresentam marcas físicas de manipulação processual de escrita.

A edição foi publicada neste site por meio do plugin TablePress, que permite a inserção de tabelas no site. Optou-se por apresentar o texto em formato de tabela, pois cada linha fica marcada na apresentação, deixando claro onde cada linha começa e onde termina, dispensando o uso do operador | para quebra de linha. Além disso, ao inserir o texto diretamente no site, sem o recurso da tabela, o conteúdo foi desconfigurado.

REFERÊNCIAS:

DUARTE, Luiz Fagundes. Os Palácios da memória: ensaios de crítica textual: ensaios de crítica textual. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2019. Disponível em: https://research.unl.pt/ws/portalfiles/portal/16901066/202021811200268outfile.pdf. Acesso em 06 maio 2025.

SANTIAGO, Stephanne C. Meu caro Eudaldo: edição dos rascunhos de cartas do caderno Farmácia São José, de Eulálio Motta. 2021. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2021.

SANTIAGO, Stephanne C. Por uma Ação Católica: hiperedição dos rascunhos de cartas de Eulálio Motta para Eudaldo Lima. 2025. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2025. </div>

Critérios utilizados para a transcrição, no âmbito do projeto Edições das Obras Inéditas de Eulálio Motta, ampliados e adaptados por Santiago (2021) a partir de Barreiros (2013; 2015):

1. No caso de manuscritos encadernados, indica-se, à margem direita da primeira linha, a folha (caso não esteja enumerada), a exemplo: (f. 1r ou f.1v), ou a página, caso tenha sido feita a enumeração pelo escrevente, a exemplo: (p. 1; p. 2);

2. No caso de folhas avulsas (manuscritas, datiloscritas ou impressas), indica-se o código catalográfico, à margem direita, exemplo: (EH1.800.CL.03.004);

3. No caso de impressos ou datiloscritos encadernados, indica-se o número da página à margem direita, exemplo: (p. 10);

4. As linhas são numeradas de 5 em 5 à margem esquerda;

5. Os textos são transcritos em fonte Times New Roman padrão Word; de tamanho 11, justificados à margem esquerda;

6. Transcreve-se o título como se encontra no original;

7. Quando não houver título atribuído pelo escrevente, deve-se tomar a primeira linha escrita como título para o texto;

8. As quebras de linha serão marcadas com o símbolo |;

9. A rubrica do autor indica-se entre colchetes;

10. Serão mantidos os sublinhados que constam no documento a ser transcrito;

11. Serão utilizadas notas do editor para indicar informações complementares tais como: alternância da cor da tinta, rasgões, furos, manchas, colagens, etc., que devem ser apresentadas sempre no final da transcrição, separados do texto transcrito;

12. Serão mantidas as abreviaturas na transcrição, a serem desdobradas na nota do editor;

13. São mantidas as interpolações, os lapsos do autor, a ortografia, a acentuação, o uso de maiúsculas, a pontuação e registraram-se todas as correções, emendas, rasuras e acréscimos, através da utilização de operadores genéticos;

14. Corresponde a uma transcrição linearizada que acomoda as rasuras, substituições, correções e acréscimos na sequência lógica do texto (não obedecendo a topografia do original);

15. As linhas vazias (sem escritos ou marcas), como, por exemplo, o ato de saltar uma linha, são apresentadas na transcrição, mas não são contabilizadas na enumeração. Traços, riscos ou outras marcas nas linhas em que não apresentam código alfanumérico devem ser reproduzidos, sempre que possível, e as linhas devem ser contabilizadas como linha escrita na enumeração lateral da transcrição.

Foram utilizados os seguintes operadores genéticos para realizar a transcrição genética, elaboradas no âmbito do projeto Edições das Obras Inéditas de Eulálio Motta, ampliados e adaptados por Santiago (2021) a partir de Barreiros (2013; 2015):

Chave de leitura dos operadores: o símbolo { } ocorre em contexto de cancelamento, apagamento por borracha ou segmento ilegível; o símbolo [ ] ocorre em contexto de acréscimo, numeração da página e rubrica do escrevente; o símbolo / \ ocorre em contexto de substituição. O símbolo † é utilizado para representar segmento ilegível; os símbolos ↑↓← → são utilizados para representar a localização do acréscimo ou substituição na página; o símbolo ⸖ é utilizado para representar o ato o ato de substituir por sobreposição (unidade lexical ou frase escrita por cima de outra).

1. [Ҏ ] Numeração da página que consta escrita no documento;

2. | marcação da quebra de linha;

3. { } seguimento riscado, cancelado;

4. {₿ … ₿} (₿ em negrito) seguimento ou texto completo apagado por borracha;

5. {₮ … ₮} (₮ em negrito) marcação de texto inteiramente cancelado (riscado);

6. {₣ … ₣} (₣ em negrito) marcação de fragmento de texto cancelado (riscado) que ultrapassa o nível da linha;

7. {†} seguimento ilegível;

8. {{†}} seguimento ilegível cancelado, riscado;

9. {†}/⸖{†}\ seguimento ilegível substituído por outro seguimento por sobreposição ilegível;

10. {†}/ \ segmento ilegível substituído por outro legível na sequência, na relação: {ilegível}/legível\;

11. {†}/⸖ \ substituição por sobreposição de segmento ilegível por outro legível na relação: {ilegível}/⸖legível\;

12. { }/ \ segmento legível riscado e substituído por outro legível na sequência, na relação: {substituído} /substituto\;

13. { }/⸖ \ substituição por sobreposição de segmento legível por outro legível, na relação: {substituído}/⸖ substituto\;

14. { }/[↑]\ riscado e substituído por outro na entrelinha superior;

15. { } /[↑]\ riscado e substituído por outro na entrelinha inferior;

16. { } /[→]\ riscado e substituído por outro na margem direita;

17. { } /[←]\ riscado e substituído por outro na margem esquerda;

18. [  ] acréscimo no curso da linha;

19. [↑] acréscimo na entrelinha superior;

20. [↑↑] continuação da entrelinha superior;

21. [↓] acréscimo na entrelinha inferior;

22. [↓↓] continuação da entrelinha inferior;

23. [→] acréscimo na margem direita;

24. [←] acréscimo na margem esquerda;

25. [↑{  }] acréscimo na entrelinha superior riscado;

26. [↑{†}] acréscimo na entrelinha superior ilegível;

27. [↑{  }/ \] acréscimo na entrelinha superior riscado e substituído por outro na sequência;

28. [↑{†}/  \] acréscimo na entrelinha superior ilegível e substituído por outro na sequência;

29. [↓{  }] acréscimo na entrelinha inferior riscado;

30. [↓{†}] acréscimo na entrelinha inferior ilegível;

31. [↓{  }/ \] acréscimo na entrelinha inferior riscado e substituído por outro na sequência;

32. [↓{†}/  \] acréscimo na entrelinha inferior ilegível e substituído por outro na sequência;

33. [*↑] parte do texto localizada à margem superior indicada pelo autor através de seta, linha ou números remissivos;

34. [*↓] parte do texto localizada à margem inferior indicada pelo autor através de seta, linha ou números remissivos;

35. [*→] parte do texto localizada à margem direita indicada pelo autor através de seta, linha ou números remissivos;

36. [*←] parte do texto localizada à margem esquerda indicada pelo autor através de seta, linha ou números remissivos;

37. [*(f. ou p., L ) … *(f. ou p., L)], sendo apresentado em negrito, para parte do texto localizada em outro fólio ou página indicada pelo autor a partir de números e letras remissivos ou anotações. Nesses casos, o número do fólio ou da página aparece entre parênteses, seguido de L que referenciará a linha na qual esse apêndice se encontra;

38. / * / leitura conjecturada;

O primeiro rascunho de carta para Eudaldo Lima, no caderno Farmácia São José, se intitula Meu caro Eudaldo: Saudações, no qual Eulálio Motta agradece a Eudaldo Lima pelo envio de um exemplar do livro protestante Cochilos de um Sonhador, de autoria de Basílio Catalá Castro. Sabe-se que Basílio Catalá Castro residia em Campo Formoso, Bahia, assim como Eudaldo Lima, e atuava como pastor presbiteriano. O envio desse livro a Motta não parece ter sido um gesto meramente cordial, mas sim um movimento estratégico, considerando que, naquele período, havia crescente tensão entre protestantes e católicos em virtude de perseguições religiosas. Além disso, os integralistas enfrentavam repressão política no contexto do Estado Novo.

Ao encaminhar a carta, Eudaldo Lima lança, implicitamente, um convite ao embate ideológico e teológico. Esse gesto marca o início de um debate que mais tarde se tornaria público, com trocas epistolares e manifestações em jornais, revelando a sobreposição entre conflitos religiosos e disputas políticas no universo em que ambos estavam inseridos.

O livro Cochilos de um Sonhador contém algumas palavras introdutórias de Getúlio Vargas, que foram ditas no jornal O País, em 1925, apresentadas antes do prefácio, e foi escrito como resposta ao libelo Eu Tive um Sonho, de autoria do Pe. Francisco de Sales Brasil, no qual teceu críticas contra os protestantes. Nesse rascunho, Motta deixa claro que escreverá algumas linhas sobre o livro, contudo, só havia lido as palavras de Getúlio Vargas, até então, e pontuou algumas divergências entre seus pensamentos e as declarações de Vargas.

REFERÊNCIAS

SANTIAGO, Stephanne C. Por uma Ação Católica: hiperedição dos rascunhos de cartas de Eulálio Motta para Eudaldo Lima. 2025. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2025.

MOTTA, Eulálio de Miranda. [Correspondência]. Meu caro Eudaldo: Saudações. [S.l.]. [1941a]. Carta pessoal. Editado por Stephanne da Cruz Santiago. In: SANTIAGO, Stephanne da Cruz. Por uma Ação Católica: Cartas de Eulálio Motta. 2025. Disponível em: https://acbmotta.com/index.php/edicao-genetica-de-meu-caro-eudaldo-saudacoes/. Acesso em:

MOTTA, Eulálio. Caderno Farmácia São José. EA2.3.CV1.03.001, [S.l.], [entre 1940 e 1945].

p. 14
 
[Ҏ 14] |
[*(15, L 20) (¹ Uma criança de dias, batisada na Igreja Catolica, ou um
analfabeto que cumpre, com humildade, os mandamentos ca-
tolicos, saõ catolicos quanto saõ aqueles que o saõ e sabem
5a Doutrina, e muito mais do que muitos que saibam a
Doutrina e naõ a seguem… O autor da afirmaçaõ
foi, convenhamos, precipitado… As cous{aõ}/⸖as\ naõ saõ taõ
simples como, á primeira vista, podem parecer… *(15, L 20)]

1. Texto escrito com tinta preta, exceto pela numeração da página, feita a lápis grafite, na margem superior esquerda.

2. Texto escrito no meio exato da página, localizado entre as 8 linhas superiores e as 8 linhas inferiores da página.

p. 15
 
Meu caro Eudaldo: [Ҏ 15]
Saudações
Em mãos o exemplar do livrinho “Cochilos
de um sonhador”, que [{V}] me mand{aste}/⸖ou\, pelo
5que me apresso em {te}/⸖lhe\ en{†}/⸖v\iar um muito
obrigado, de coraçaõ.
Depois de le-lo, naõ deixarei de {te}/⸖lhe\ fazer
algumas linhas, dizendo algo sobre o mes-
mo e sobre o assunto. Por enquanto, só li
10as palavras do Dr. Getulio Vargas, que precedem
o “Prefacio”. Que a “alta sociedade” adota um
Catolicismo cetico e elegante, estou de acordo,
com restrições. Que a “Massa ignara” está na fase
fetichista de adoraçaõ dos santos com varias especialida-
15des milagreiras”, tambem aceito, com restrições. Que
“uma pessoa, para ser catolica, é preciso que a-
ceite todos os seus dogmas, {e pratique”,} de acor-
do, sem restrições. [↑Quanto a afirmaçaõ de que,] Para que uma pessoa se
diga catolica, é preciso que conheça a Doutrina[↓,]
20aqui é que estou em desacordo…[*(14, L 2) [↑1(] ]. {o}/⸖O\ autor
de tal afirmaçaõ, se [↑fosse] chamado a prova-la
com [↑os fatos, com] a Historia, [↑de ontem e de hoje,] {sem} ver{ia}/se-[↑ia]\ em apuros que
nunca conheceu nas tertulias politicas…
{ Com conhecimentos politicos, naõ se pode
acertar afirmações religiosas. {As}/⸖Os\ {afirmações}/[↑apresento]\ nes{s}/⸖t\e }
{T{†}}/⸖Reljaõ\ e {s}/⸖a\ssunto seri{am}/⸖o\ demais para se{rem}/⸖r\ resolvid{os}/⸖o\

1. Texto escrito com tinta preta, exceto pela numeração da página, feita a lápis grafite, na margem superior direita.

2. Na linha 10, a abreviatura Dr. se desenvolve como Doutor.

3. Na linha 20, o escrevente marcou um traço de lápis de cor vermelho abaixo do número “1(”, referente à parte do texto localizada na página 14.

4. Nas linhas 24 e 25, o fragmento de texto foi cancelado por riscos horizontais (linhas) feitos com tinta preta.

p. 16
 
[Ҏ 16]
com {discuções}/[↑fraseados de]\ politicos. Com afirmações
de tal natureza, o autor cometeu aque-
le erro do sapateiro que passou do sa-
5pato, {Dan}/⸖dan\do [↑lugar a] frase-[↑conselho,] que ficou na histo-
ria : “ Sapateiro naõ passe do sapato…”
Se ele [↑(o autor de taes afirmações),] tivesse na memoria esse pedacinho da
historia [↑no] momento {de}/⸖em\ [↑que] escreve{r}/⸖u\ aquela[s] afirmações {{†}}
[↑precipitadas,] cheirando a Augusto Comte…
10Fiquemos por aqui, para naõ transpor muito os li-
mites desta carta que {escrevo}/⸖{†}\ somente para isto: {lhe}
dizer-{te}/⸖lhe\ que recebi o livrinho supra-citado, e ped{r}/⸖i\r-
lhe que a{q}/⸖c\redite na sinceridade da minha
gratidaõ.
15Receba um abraço do seu velho amigo
[Eulalio Motta.]
22-8-141.
__________________________________________________
Carta {a}/⸖A\berta a um amigo
20(Sobre um livro de polemicas do Snr. Basilio Castro)
Meu amigo: Na carta particular que lhe fiz com data de 22-8-941,
prometi que, terminada a leitura do livro que você me man-
dara, escrever-lhe-ia, dizendo algo sobre o mesmo.
Considerando que o assunto naõ interessa somente a mim e
25a você, mas [a] um grande nº de pessoas, catolicas e protestan-
tes, resolvi, envez de uma carta parti,cular, fazer-lhe esta carta aberta.
{(sobre o {†}/⸖livreto\ re{†}aõ)}

1. Texto escrito com tinta preta, exceto pela numeração da página, feita a lápis grafite, na margem superior esquerda.

2. Entre as linhas 18 e 19, a página foi dividida por um traço para separar os textos.

3. Na linha 20, a abreviatura Snr. se desenvolve como Senhor.